segunda-feira, 29 de agosto de 2011

a Morte.


  Em uma pequena e tranquila cidade morava um velho por volta de seus sessenta e poucos anos. Seu nome era John. A cidade inteira o conhecia, gostavam dele. Mas John sofria em silêncio, ninguém sabia o porquê, nem mesmo ele. Bebia e fumava praticamente o dia todo, sentado em sua cadeira de balanço em frente à sacada, indo para frente e para trás, para frente e para trás.
  Passavam-se carros e crianças e bicicletas e adultos e cachorros e gatos e pássaros... O mundo continuava a girar enquanto John não demonstrava sequer uma expressão. Era como se já estivesse morto.

  Certa noite, John teve um pesadelo, sonhou que a morte viera lhe buscar, ela era monstruosa, puro esqueleto. Coberto por um capuz negro que deixavam apenas suas mãos de fora. Carregara consigo também uma foice bem amolada, usada para rasgar o peito das pessoas em sua lista de espera. John era o próximo. Ele corria, tentava se esconder, mas a morte sempre sabia onde ele estava. Não importasse onde. Sua esposa apareceu e ofereceu um acordo para a morte, que levasse ela em seu lugar. A morte aceitou, mas disse que John não duraria muito tempo. A morte bateu com a foice no peito da esposa de John enquanto uma lágrima saía de seus olhos e uma forte luz branca se acendeu, capaz de deixar qualquer um cego.

 John acordou, aflito. Virou para o lado e gritou:
- Mary!
Mary não respondeu. Tentou mais uma vez e nada. Mary não estava mais lá. Sua pele estava branca, gelada. John desabou no chão e começou a chorar. Era pra ser apenas um pesadelo.

  Durante os próximos anos, aquele sonho assustador se repetira dentro de sua cabeça, John não aceitava o fato de ter perdido sua esposa, o amor da sua vida. Não entendia. Ele nunca ligou para sua vida, bebia, fumava, era preguiçoso, não tinha um Deus. Sua mulher era diferente, ela era simplesmente apaixonada por viver. "Porque ela e não eu? Não entendo." John se perguntava, enquanto tragava uns cigarros e bebia seu Whisky em sua cadeira de balanço.
  John se levantou, atirou a garrafa no meio da rua e gritou:
- Venha me buscar, sua filha da puta! Estou te esperando.
E a morte não veio.
  Pelo menos, não aquela morte. Um jovem vestido em um terno preto, elegante. Por volta de seus vinte e poucos anos, carregando um botão de rosa vermelha estava em pé ao lado de sua cadeira de balanço.
- Olá, John. - Diz o rapaz.
- Quem é você?! - John se assusta, e começa a se afastar. - Como sabe meu nome?!
- Não se assuste, John. Não precisa ter medo.
- O que você quer de mim?
- Eu vim te buscar.
- O Quê? Mas... Por quê?!
- Ora, foi o que você pediu, não?
- Espere, não estou pronto. Por favor, não me leve.
- Você não tem escolha, sua hora chegou. Vamos.

  John abaixa sua cabeça e desaba de joelhos, seus olhos se enchem de lágrimas que caem no chão de sua sacada. Pobre John. A morte se aproxima dele e ergue sua cabeça. "Levante-se" ela diz, com serenidade. John se levanta, buscando forças em seu interior para encarar o que viesse pela frente, ele não estava pronto para morrer, mas queria demonstrar que sim, era seu orgulho falando mais alto. A morte entregou-lhe o botão de rosa vermelha.
- Segure isto... Agora me diga, sabe o que isso significa?
- Acredito que seja minha passagem para o inferno. - John olhava aquela rosa com um olhar distante - Mas confesso que estava esperando por uma foice. Obrigado.
- Essa não é sua passagem para o inferno, John...
- E o que é então?!
- Essa flor... é sua segunda chance.
- O quê?!
- Sua mulher pediu para entrega-la à você, junto com algumas palavras: Aproveite sua chance, John. Nem todo mundo a merece. E lembre-se sempre... Eu te amo.

  John fechou os olhos, segurou firme o botão de rosa e continuou a chorar, seu rosto estava vermelho. Ele chegava a soluçar.
  Ao abrir os olhos, o rapaz vestido no terno preto não estava mais lá, apenas sua velha cadeira de balanço, seu maço de cigarros e uma garrafa de Whisky. John sentou-se em sua cadeira e olhou friamente suas coisas. A imagem de sua falecida esposa veio em sua cabeça. Ele se arrependera de não ter aproveitado cada segundo ao seu lado, ter aproveitado cada sorriso seu, ter sentido mais seu perfume, ter beijado mais sua boca, ter falado mais eu te amo. Agora, tudo que lhe restara de sua mulher era o botão de rosa vermelha.
  John se levantou, jogou o maço de cigarros fora junto com sua garrafa de Whisky e saiu andando. Para onde? Nem ele sabe. Sabe-se apenas que ele foi viver. Em sua cadeira de balanço, descansava o botão de rosa vermelha com um bilhete escrito à mão:

"Obrigado pelo presente.
Lembre-se sempre... EU TE AMO.

com amor: John."

domingo, 14 de agosto de 2011

O Monstro do Coração.



Existe um pequeno monstro vivendo em meu coração;
Um pequeno monstro feio e retardado chamado amor;
Ele não é mal, é apenas idiota;
Vira e meche quer sair, conhecer coisas novas;
Mas eu o tranco naquele pequeno espaço no meu peito;
Não o deixo sair;
Ele chora;
Então alguém finalmente consegue liberta-lo;
E aí meu pesadelo começa.

Não tem a ver com assustar pessoas;
Tem a ver com machucar pessoas;
E na maioria dos casos, essas pessoas se resume apenas em uma só;
Eu.

Talvez ele tenha ódio de mim, ódio por ter sido trancado, escondido;
Talvez ele queira vingança, acabar comigo;
Esse pequeno monstro me faz perder a cabeça;
Me faz ajoelhar.

É como um encantamento, maldição;
Se eu confiar nesse pequeno monstro, estou assinando meu contrato de morte;
Mas nunca deixei de assinar.

No escuro, sozinho!
Ouço a voz desse maldito monstro gargalhando;
Tenho vontade de gritar, tenho vontade de chorar;
Tenho vontade de fugir;
E tudo o que faço é derramar litros de álcool sobre seu lar, meu coração;
Talvez embriagado, esse filho da puta não me atormente;
Talvez bêbado, esse desgraçado não me faça sofrer.

Mas ele nunca para;
Continua me assombrando, trazendo consigo fantasmas do passado;
A dor é intensa como espadas sendo enfiadas em meu peito;
Sofrimento!
Uma lágrima escorre dos meus olhos.

"Desculpe-me... Eu não consigo."

sábado, 13 de agosto de 2011

Óculos pra quem usa óculos.


"Há cada ano que passa, surgem novas tecnologias sobre realidade e dimensões. Nós temos cinemas 3D, televisões 3D, fotos 3D, e várias outras merdas desse tipo. Infelizmente não fomos feitos para enxergar dessa maneira naturalmente exceto quando estamos bêbados. É aí que entra em cena os óculos. Você coloca aquela merda e se sente como um viciado em cogumelos, a impressão que se tem é que as coisas vêm mesmo até você, pedras, água, machados, tiros, e por aí vai. Mas, como fazer com quem tem algum tipo de problema nos olhos... Miopia, astigmatismo, hipermetropia. Nesse caso, a pessoa tem duas escolhas. Ou usa dois óculos e fica parecendo um idiota, ou não usa porra nenhuma e também não enxerga."

Não enxergar.
Talvez não seja tão ruim assim, quer dizer. Saio pelas ruas sem enxergar nada direito por causa da alta miopia e dessa forma não reconheço as pessoas. Várias vezes fui parado por algum conhecido que me disse: "Uau cara, você não vai me cumprimentar não?!" E eu dizia: "Me desculpa, não te vi" (Algumas varias vezes eu até enxergava, mas não cumprimentava de propósito. Questão de afinidade). Por outro lado, não enxergar também me limita a algumas coisas, como por exemplo. Só consigo enxergar uma mulher bonita nitidamente se ela estiver próxima de mim, tipo uns 80 centímetros. Passou disso, a visão vai embaçando e pra mim ela é apenas uma "mulher". Por essa razão evito ficar olhando pras mulheres quando não enxergo. Pode acontecer de eu olhar pra uma mulher muito, mas muito feia e bem, vocês sabem...

Não acho que essa coisa de não enxergar seja um problema enorme na minha vida, aliás, acho que até poderia me ajudar... Vi em algum uma frase do tipo "Feliz é aquele que não vê" e quando alguma coisa ruim me acontece, penso sobre essa porcaria. Talvez seja verdade. Talvez se as pessoas não vissem, evitassem muitos problemas. Mas esse é o maior defeito do ser humano, querer saber.